Os ambientalistas estão inconformados com a forma como está a se lidar com os crimes ambientais na ilha do Sal. O protesto é contra a “impunidade” em que navegam os caçadores de tartaruga, que todos os dias caçam, matam, vendem e consomem esta espécie símbolo dos mares de Cabo Verde, entretanto em extinção no mundo.
De acordo com Euclides Gonçalves, director de saneamento da Câmara Municipal do Sal e um dos principais defensores do meio ambiente da ilha, até Julho mais de 426 tartarugas deram às costas do Sal para a desova. Destas, 26 foram mortas. Um número muito elevado para uma ilha que está há largos anos tenta sensibilizar as pessoas contra esta prática.
Segundo Gonçalves, que fala em nome de todos os ambientalistas do Sal, cerca de 12 pessoas já foram autuadas por crimes contra o ambiente, neste caso, pela caça de tartarugas. Até agora, afirma, apenas um julgamento aconteceu, envolvendo 3 suspeitos.
O pior, lamenta Euclides, “é que a estes prevaricadores só foram aplicadas multas de 10 mil escudos. E veja: se matam a tartaruga e vendem a sua carne por mais de 30 contos, acabam por sair no lucro, mesmo pagando 10 10 contos de multa”.
A sensação que se tem, diz o responsável pelo gabinete de saneamento da CMS, é de impunidade. “Usamos o dinheiro público para fazer o trabalho de protecção e preservação das tartarugas e os prevaricadores continuam a praticar este crime impunemente”, contesta. E aconselha: “Se calhar seria muito mais proveitoso puni-los com serviço social, ou até mesmo colocá-los nas praias, para junto com a organizações fazer o trabalho de protecção”.
Euclides Gonçalves aponta o dedo às autoridades, acusando-os de não se preocuparem com esta matéria de preservação das tartarugas, “símbolo do paraíso cabo-verdiano”. “Se não vejamos: para o Sal, este ano foram disponibilizados apenas 300 contos para o projecto de protecção e preservação das tartarugas. Recentemente, a Câmara do Fogo autorizou a apanha de areia em Fonte Bila, uma das principais praias de desova da ilha. Todos anos surgem obras grandes nas praias do país”. No fundo, completa Gonçalves, estes exemplos mostram o descaso com que as autoridades deste país estão a tratar o ambiente.
A pergunta que se coloca é: “vale a pena continuar a fazer esse trabalho, quando é pública e notória a destruição dos habitats, enquanto as autoridades parecem não estar nem aí para esta espécie rara no mundo, e que nós temos o privilégio de ter em abundância no nosso mar e nas nossas praias. Se calhar daqui a algum tempo vão pensar doutra forma. Só espero que não seja tarde demais”, lança o ambientalista.
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