SOS Tartarugas works in Cape Verde protecting nesting loggerheads turtles (Caretta caretta) and their habitat. Cape Verde is the third most important nesting area for loggerheads in the world. Turtles are at risk from hunting for meat, stealing of eggs, removal of sand for building and unregulated tourism development. Our email is info@turtlesos.org.
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Friday, June 7, 2013

Quebra-Mar Do Sal Prestes A Avançar Apesar Da Oposição

English version here.
Na passada terça-feira o Director Geral do Ambiente, Moisés Borges, dirigiu-se a uma audiência algo inquieta e barulhenta para responder a questões sobre o quebra-mar que foi proposto pelo The Resort Group na praia do Algodoeiro.

O quebra-mar, de acordo com o The Resort Group, é necessário de forma a assegurar melhores condições de banhos para os turistas que visitam os seus hotéis, Mélia Tortuga, Dunas e Llana Beach.
 
De acordo com Victor Fidalgo, o anterior presidente da Cabo Verde Investiments (empresa responsável pelo desenvolvimento do turismo) mas agora um empregado do The Resort Group,  a ilha do Sal tem pouco mais para oferecer que praias e este quebra-mar irá atrair mais turistas e por isso fomentar a prosperidade económica da população do Sal.

Exposed rocks at low tide make entering sea difficult for tourists

Apesar de ter sido extremamente difícil de conseguir alguma resposta directa, parece que o quebra-mar não está ainda aprovado apesar de já ter ido para ser assinado pelo Ministro.

Aqueles que se opõem ao quebra-mar têm diversas preocupações; nomeadamente que o quebra-mar irá afectar a onda mundialmente famosa da Ponta Preta, que irá afectar a nidificação das ameaçadas tartarugas Caretta e que a praia na prática se irá tornar “privatizada”. Estas três preocupações foram considerados irrelevantes uma vez que, de acordo com o Sr. Borges, há uma insuficência de provas que suportam a ideia de que haverá algum impacte na onda; que as tartarugas nidificantes na ilha do Sal representam “apenas” 7% do total da população de Cabo Verde e que a privatização da praia é um argumento sem qualquer fundamento.

Turtle nests near breakwater location at Llana Beach
Apesar de grande parte dos surfistas que compareceram na reunião estarem bastante sensíveis à questão do quebra-mar e com os ânimos algo exaltados, parece que isso, por si só, não chega para salvar a praia. Embora o Sr. Borges tenha admitido que a petição que conta com mais de 5.000 assinaturas foi tida em conta no processo de avaliação,  esta foi rejeitada uma vez que a grande maioria dos seus assinantes são estrangeiros. Por diversas vezes o sentimento pareceu ser “vocês não são engenheiros por isso a vossa opinião não conta”. Assim, parece que o desejo de preservar o património natural de um país puramente com o objectivo de o proteger não é argumento suficiente para o governo de Cabo Verde.
Director General Environment Moises Borges
Além disso, é ironico que quando a única justificação dada para a construção do quebra-mar seja a de trazer benefício para estrangeiros, o facto de que embora muitos deles sejam contra este empreendimento, a sua opinião não seja tido em conta!

Embora seja verdade que apenas 6% dos assinantes da petição sejam residentes de Cabo Verde, é a prova da importância e da fama internacional da Ponta Preta para que este empreendimento tenha provocado tal tempestade.
Type of materials to be used
How the breakwater may look
Em termos de relatórios técnicos, a avaliação submetida pela SOS Tartarugas deveria ser suficnete para evitar a construção uma vez que o quebra-mar irá provocar um efeito determinante na já dizimada população de tartarugas que estão em risco de extinção. SOS Tartarugas analise do AIA.O facto de que o quebra-mar irá ser construído numa Área Protegida criada pelas Nações Unidas  é também uma questão ignorada. Alguns membros da equipa das Nações Unidas estavam também presentes na reunião, pelo que devem estar alertados para o grau de preocupação envolvido. Também a Águas Ponta Preta submeteu um relatório técnico sobre esta questão, devido à preocupação do impacte negativo que este projecto possa causar no abastecimento de água dessalinizada.  

Parece que a única avaliação tida em consideração foi a que foi preparada pela construtora, VW-Consultores em Hidráulica e Obras Marítimas, S.A., a companhia que certamente tem interesses próprios?
 
Loss of beach caused by a breakwater in Spain
Claro que é indiscutível que o turismo pode trazer benefícios para o país e aumentar a prosperidade da população. A questão que se coloca é sobre o tipo de turismo que está a ser desenvolvido no Sal (e consequentemente, em menor escala, na Boa Vista). Parece que o único tipo de turismo reconhecido é o modelo do turismo de massas. O desenvolvimento de um turismo de baixo impacto ambiental, sustentável e ambientalmente consciente como o turismo desenvolvido à volta de actividades como kite-surf ou o surf, parace ser muito pouco prioritário.

Uma forma elegante de colocar esta questão pode ser encontrada neste blog: http://bianda.blogspot.com/2013/06/ponto-negro-ii.html

"A luta aqui é entre velhos senhores sentados num gabinete climatizado, a ver os cifrões a cintilar na imaginação, e uma geração jovem,que pensa diferente,pensa natureza, quer um vida diferente, mais justa, mais ecológica para estas frágeis ilhas."

("The fight is between older men who sit in air-conditioned offices and see dollar signs in their minds and the younger generation who want a different life, more just and more natural and green for these fragile islands.")

No waves.  No surf.  No fish
É, em todo o caso, discutível quanto emprego será criado, uma vez que apenas haverá trabalho extra exclusivamente durante a fase de construção. Os empregos gerados pelos novos hotéis existirão de qualquer forma uma vez que estes não dependem da construção do quebra-mar. 

De acordo com a DGA (Direcção Geral do Ambiente), o projecto foi analisado e considerado “muito bem cotado” por uma equipa de técnicos altamente qualificados pertencentes a diversas instituições. Estes peritos, apesar da evidência clara de todo o mundo que contradiz a sua opinião, acreditam que o quebra-mar não irá causar danos ambientais irreversíveis.

Tentar alterar a natureza da ilha já teve consequências. A construção de hotéis que bloqueiam o vento e impedem assim o transporte de areias para as praias, resultou numa diminuição dos areais nas praias em apenas poucos anos.  

Idyllic beach scene on The Resort Group's website will soon not be the reality
Depois de destruir o património natural das prais do Sal, o que virá a seguir? A exploração mineira do vulcão na ilha do Fogo? A destruição da Cidade Velha na Ilha de Santiago? As condições mundialmente famosas da Ponta Preta e a nidificação de tartarugas são bens mais valiosos que uma rápida (e questionável) solução para criar condições menos que perfeitas para os turistas se banharem no Algodoeiro. Deixem os turistas virem para a ilha pelo que ela naturalmente tem para oferecer, é certamente loucura tentar alterar a ilha para agradar ao turismo de massas?!

Apesar de parecer que o projecto foi já aprovado, o Director Geral do Ambiente afirmou que há ainda a hipótese do projecto ser interrompido em qualquer momento se surgir informação técnico-científica suficiente que comprove os danos ambientais irreveríveis que o mesmo acarreta.

Numa anterior reunião o Sr. Fidalgo rejeitou a petição afirmando que apesar desta contar com mais de 5.000 assinaturas, ele podia encontrar 10.000 que seriam a favor do projecto. No entanto, tem sido impossível encontrar uma única pessoa na ilha do Sal que seja a favor desta construção.

Compreendemos que a Câmara Municipal do Sal, a equipa da Direcção Geral do Ambiente, bem como o Director Geral do Turismo tenham rejeitado esta proposta, então quem está de facto a favor? E com tanta oposição, como conseguiu ser aprovado?

O movimento social criado à volta desta questão é sem dúvida inspirador. 

"A questão da Ponta Preta não é se a geodinâmica altera ou não, se ficam mais tartarugas ou não. Nem se é legal ou não. A questão é de cidadania. A questão é que várias alterações vão sendo perpetuadas na frágil ilha do Sal e ninguém fala. Quando um grupo, realmente ferido na alma, protesta, o poder mostra como tem mão pesada. Decide!..O ponto essencial, que as autoridades fingem ignorar, é que para todo o fiel, neste caso os surfistas, que são das pessoas mais religiosas que conheço, quando se deita um lugar sagrado no chão, isso representa uma afronta que não podem calcular senhores. Fiquem atentos à raiva gerada."

Amanhã, sábado, dia 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos, as pessoas irão demonstrar a sua oposição e descontentamento com uma marcha pacífica entre o centro de Santa Maria e a Ponta Preta, seguindo depois para a praia onde se planeia a construção do quebra-mar.

Assina a petição aqui..


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