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Na manhã do dia 3 de Julho, o telefone tocou e escutou-se uma voz em tom de alerta dizendo que algumas baleias tinham sido vistas na praia de Parda, que fica no norte da ilha do Sal, perto de Pedra de Lume. De imediato, entrámos em contato com a equipa que se encontra permanentemente no nosso acampamento, em Ribeira de Tarrafe, para que fossem dar uma ajuda. E o telefone toca novamente e mais um pedido de auxílio “Venham depressa e tragam o máximo de pessoas que conseguirem, há muitas baleias na praia de KiteBeach também”.
Na manhã do dia 3 de Julho, o telefone tocou e escutou-se uma voz em tom de alerta dizendo que algumas baleias tinham sido vistas na praia de Parda, que fica no norte da ilha do Sal, perto de Pedra de Lume. De imediato, entrámos em contato com a equipa que se encontra permanentemente no nosso acampamento, em Ribeira de Tarrafe, para que fossem dar uma ajuda. E o telefone toca novamente e mais um pedido de auxílio “Venham depressa e tragam o máximo de pessoas que conseguirem, há muitas baleias na praia de KiteBeach também”.
Duas baleias que
nadaram novamente para a costa
Foto de Diana Lin
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A equipa em peso largou tudo e deslocou-se a partir de Santa Maria e do
nosso outro acampamento na Costa Fragata, e quando chegámos a Kite Beach o
cenário era incrível – muitas baleias, mas também muitas pessoas, que se uniram
nesta missão – salvar estas criaturas.
Estimamos que haviam doze indivíduos , uns adultos e alguns juvenis. Para
além destes, pelo menos duas femeas grávidas foram identificadas. Estamos a
falar de Baleia Piloto de barbatana curta (Globicephala macrorhynchus), uma espécie muito comum nas águas de Cabo Verde. Os
machos podem atingir até cerca de 5,9 metros e
3 toneladas de peso, e as fêmeas 4 metros e 1 200 quilos. A sua comida preferida são lulas.
Frequentemente são vistas em grandes grupos. Embora o seu nome comum seja
‘baleia’, são, na verdade, membros da família dos golfinhos.
As equipas de resgate trabalharam arduamente
cerca de oito horas, empurrando continuamente as baleias de volta para o mar e
nadando com eles, mantendo-os na posição vertical até que pudessem passar a
zona de rebentação, que justamente nesse dia, as ondas estavam enormes! Infelizmente, vários deles nadavam apenas alguns metros e eram trazidos
novamente para a costa. A linha costeira rochosa dificultava ainda mais as muitas
tentativas de resgate, sendo agora uma situação perigosa não apenas para as
baleias, mas também para as pessoas que
as tentavam salvar afincadamente.
Os arrojamentos de baleias-piloto não
são uma situação incomum em Cabo Verde, como pode ser visto a partir do
histórico de imagens abaixo.
Nos últimos anos, houve pelo menos
dois outros casos de encalhes em massa.
Em Julho de 2010, 42 baleias
encalharam na área de Monte Leão e, infelizmente, não se conseguiu organizar e
mobilizar equipas de resgate em número suficiente e as poucas pessoas quando
conseguiram chegar até lá já era tarde demais e todas as baleias morreram. Extraordinariamente, no mesmo instante, houve
também um encalhe na ilha de Santiago.
Uma baleia morta é removida para ser enterrada - Monte Leão |
Em Setembro de 2012, aproximadamente o mesmo número de baleias foram encontrados
em Ponta Sinó, na parte sul da ilha do Sal. Mais uma vez um enorme esforço da
comunidade resultou no salvamento e devolução dessas baleias ao mar com
sucesso. E nesse mesmo dia, cinco baleias também ficaram encalhadas em Boa
Esperança, Boavista, que fica em frente a Ponta Sinó e separadas por apenas
40km de mar.
Neste caso, todas as baleias foram reflutuadas com sucesso e o resgate foi
muito mais fácil que este recente, devido às condições da costa e do mar .
Em Kite Beach, a exaustão das baleias era óbvia, devido não só às ondas
fortes, mas também pelos ferimentos nas rochas e muitas sangravam, sendo
incapazes de se manterem numa posição de equilíbrio.
No passado, os arrojamentos de baleias acabavam por representar uma
oportunidade de alimento, mas esta prática gerou muitas preocupações por parte
das autoridades locais, nomeadamente no que diz respeito a questões de saúde, e
por isso têm vindo a desencorajar esta prática. Infelizmente, entre a equipa de
resgate presente na praia nesse dia, um grupo decidiu esquartejar uma pequena
baleia, de forma particularmente horrível, enquanto ela ainda estava viva.
A razão pela qual as baleias e os golfinhos encalham é ainda pouco
conhecida. Existem muitas teorias, inclusive que o animal pode estar velho ou
doente, pode estar infectado com parasitas ou simplesmente ficar desorientado
em águas rasas. Barulho de embarcações, mudanças repentinas na pressão da água
por explosões, sonar ou testes sísmicos podem danificar o seu sentido auditivo
que é muito sensível. Isto pode impedi-los de mergulharem, bem como levá-los a
erros de navegação. Algumas teorias incluem o seu desejo de cometer suicídio, mas
isso não pode ser considerado já que não há como prever que o animal planeie a
sua própria morte.
Laços sociais fortes podem resultar em encalhes em massa, com animais
saudáveis incapazes de abandonarem aqueles que estão na praia.
Na maioria dos casos, em Cabo Verde, os animais foram rapidamente removidos
e enterrados, sem qualquer possibilidade de analisar as possíveis razões, e
gerando algumas teorias de conspiração, incluindo o encobrir de atividades
militares na área. Um dos sistemas sonares que se pensa ser utilizado pelos
Estados Unidos e forças da NATO, que cria uma amplitude de 240 decibéis – é suficiente
para matar baleias e golfinhos e uma causa comprovada de encalhes e massa.
Numa análise mais aprofundada verificou-se que duas baleias piloto
encalharam na costa oeste do Sal, apenas uma semana antes.
Procurando especificamente por eventos nesta área, durante este período de
tempo, foram registados dois episódios sísmicos, um deles apenas 420 km de
distância. Existem evidências de que este tipo de fenómeno está fortemente
ligado a encalhes em massa.
http://www.sciencedaily.com/releases/2013/09/130925132211.htm
Mapa que mostra pesquisas sísmicas na área no momento dos encalhes. Agradece-se ao “Stranded No More” pela informação disponibilizada.
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O resgate mais ousado de todos é aquele que demonstra
o compromisso de todos os envolvidos e culminou no transporte de duas baleias,
na parte traseira, de uma carrinha pick-up, desde a Costa Fragata até a uma
zona mais calma, já na zona sul, na praia António Sousa. As duas baleias foram retiradas da água, movidas para longe das rochas que
as estavam a colocar em perigo, apanhadas e colocadas na pickup. Pura força e
determinação superou o cansaço e o desespero. Lágrimas de alegria e emoção no
rosto de muitos, quando finalmente as baleias nadaram para longe em direcção ao
mar aberto.
© Giada Borghi |
Parabéns a todos os envolvidos nos acontecimentos deste dia intensamente dramático.
Um por todos e todos pelas baleias!
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